17/04/2020
Os seres humanos possuem cinco necessidades emocionais básicas que devem ser atendidas pelos pais ou cuidadores durante a infância. A não satisfação dessas necessidades resulta no desenvolvimento de Esquemas Iniciais Desadaptativos que irão se perpetuar ao longo da vida dos sujeitos, causando sofrimento mental e a pré-disposição para transtornos psicológicos na adolescência e na vida adulta.
Essas necessidades emocionais são:
- Vínculos seguros
- Autonomia
- Liberdade de expressão
- Espontaneidade e lazer
- Limites realistas e autocontrole
Porém, de que forma os pais podem promover a satisfação das necessidades emocionais dos seus filhos? Quais experiências os pais podem proporcionar às crianças nos primeiros anos de vida para um crescimento mais saudável mentalmente? Falaremos disso a seguir especificando cada necessidade emocional.
Vínculos Seguros: toda criança têm a necessidade de se sentir vinculada e amparada pelas figuras que cuidam dela. Os pais devem proporcionar um ambiente que dê segurança e estabilidade para os filhos, devem ser fonte de confiança para as crianças, como um porto seguro que faça com que elas se sintam confiantes para pegar o seu barquinho e explorar o oceano, mas sabendo que quando o mar ficar muito agitado poderão retornar e terão à disposição afeto, aceitação, cuidado e carinho nas figuras parentais.
Autonomia: alguns pais, na intenção de amparar as suas crianças, acabam passando um pouco do ponto e superprotegendo-as, fazendo com que elas não desenvolvam um senso de autonomia e identidade própria. Quando os pais não permitem que as crianças tentem fazer atividades compatíveis com a sua idade ou que tomem algumas escolhas próprias a tendência é que os filhos se tornem ansiosos ou evitem comportamentos parecidos quando os pais não estiverem por perto.
Liberdade de Expressão: a criança deve se sentir aceita e amada sem que para isso tenha que suprimir suas características e desejos próprios como condição para receber o afeto dos pais. Algumas famílias, por exemplo, colocam a necessidade de aceitação social à frente das necessidades emocionais do filho, e com isso condicionam a aprovação da criança à essa anulação de alguns aspectos inerentes a si mesma. Essas crianças crescem voltadas excessivamente aos desejos dos outros em detrimento das suas próprias inclinações e preferências. Para que a criança não se direcione de forma exagerada para as solicitações de terceiros é importante que os pais a incentivem a expressar suas vontades e necessidades próprias, suas emoções, além de valorizar e aceitar a sua identidade reconhecendo-a como uma pessoa singular.
Espontaneidade e Lazer: pais muito rígidos, punitivos e que exigem que os filhos cumpram regras severas e expectativas de desempenho muito altas acabam por inibir a expressão de sentimentos espontâneos da criança. Dessa forma, o filho acaba por desenvolver pouca flexibilidade além de pessimismo acerca do mundo e se priva de oportunidades de se divertir e ter prazer pois passa muito tempo preocupado e vigilante. É necessário que a criança tenha acesso a atividades lúdicas, que os pais
compartilhem momentos agradáveis com ela, aprovando seus comportamentos e suas emoções mais sinceras. Aulas de teatro, dança e a prática de esportes são dicas de atividades que podem propiciar relaxamento e bem-estar para os pequenos.
Limites Realistas e Autocontrole: Do que precisa uma criança que se sente vinculada aos outros, sente-se capaz e autônoma, consegue expressar suas necessidades de forma livre e não tem dificuldades para
agir de forma espontânea? Limite. Pais muito permissivos e que realizam todos os desejos dos filhos, ou que estimulam um senso de competitividade excessiva, podem fazer com que a criança cresça com a noção de que possui direitos especiais e vantagens em relação às outras pessoas e, por isso, merece tratamento distinto nas situações cotidianas como se tivesse a autorização para fazer tudo o que tiver vontade. Isso gera um falso senso de superioridade e traz prejuízos nas relações interpessoais, uma vez que o indivíduo passa a ter pouca resistência à frustração e acaba não conseguindo estabelecer objetivos à longo prazo ou que demandem mais esforço, foco e concentração. Ou seja, além de afeto, carinho e liberdade as crianças têm também a necessidade de ouvir “não” dos seus cuidadores. É necessário que os promovam nos filhos o entendimento das regras sociais, a empatia, senso de responsabilidade e como lidar de forma saudável com as frustrações. A criança deve entender as vantagens da cooperação entre os indivíduos e do respeito aos limites e direitos das outras pessoas.
Identificar o sofrimento mental e prejuízos sociais, emocionais e comportamentais em crianças é de grande importância, pois é durante essa fase que muitos esquemas e padrões de comportamentos disfuncionais se desenvolvem, assim como alguns transtornos. Diagnósticos e prognósticos precoces são de grande valor, pois, um desenvolvimento afetivo e cognitivo saudável é um fator protetivo importante. Além disso, a pré-disposição para a instalação de transtornos futuros pode advir de crenças e esquemas desadaptativos, surgidos e mantidos durante a infância e a adolescência.
Referências
TISSER, L et al. Transtornos psicopatológicos na infância e na
adolescência. Novo Hamburgo: Synopsys, 2018. 318p.
YOUNG, J. E.; KLOSKO, J. S.; WEISHAAR, M. E. Terapia do esquema: guia
de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Psicólogo Aldo Lodi - Clínica Ágape